A Velhinha Descolada

por Rômulo Martins

Ela conseguia provocar a maior celeuma dentro do escritório cheio de machões engravatados e executivas sabichonas. Chamavam-na de Lorena ou tia mesmo. Mas o nome oficial da “Tia da limpeza” era Maria. Guardado a sete chaves, ninguém o pronunciava. Com Lorena a limpeza deixava a desejar, mas quem se incomodava? Trabalhar com uma velhinha descolada, “pra frentex” ou coisa que o valha compensava o chão sujo da cozinha ou as marcas de dedo nos vidros da janela do décimo terceiro andar.

No auge dos seus 60 anos, Lorena não se intimidava com o ambiente de trabalho austero que os executivos bem vestidos e bastante seguros de si imprimiam ao local. Enquanto se esforçava para mostrar serviço, falava com todos de igual para igual. Quando preciso, puxava a orelha de quem deixava papel acumulado na mesa ou o copo descartável usado “dando sopa” no escritório.
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