por Dilvo Rodrigues
Leopoldo pegou as flores debaixo da cama. Olhou cada uma delas cuidadosamente, como se fossem amigas de longa data. Elas estavam perfumadas e vistosas, como se estivessem recentemente colhidas pelas mãos de um jardineiro fiel, gentil e cuidadoso. Acabou achando os sapatos que procurava, estavam bem atrás dos botões de rosa. Colocou as flores sobre a cama, pegou os sapatos com alguma dificuldade e voltou a se sentar na cama para calçá-los, amarrou os cadarços cuidadosamente, se levantou e olhou no espelho na porta do guarda-roupa, posicionado ao lado da cama. Conferiu os poucos cabelos que lhe restavam, o bigode branco que nunca aparava e a camisa desgastada pelo uso ainda lhe caía muito bem. As calças eram novinhas e os sapatos feitos sob medida. Leopoldo enfiou as mãos dentro dos bolsos, precisava de algum dinheiro para a condução. Havia alguns trocados num porta-jóias de madeira improvisado como “porta-dinheiro”. Jogou todas as moedas no bolso, um barulho danado a cada passo que dava, pegou as rosas e foi saindo de casa, esquecendo de trancar as portas e fechar as janelas.